1 de jun. de 2012

O impossível só existe se você acreditar nele

Em 1990, o Comitê Olímpico Internacional incluiu o Vôlei de Praia como esporte olímpico, com estreia prevista para Atlanta, nos EUA, seis anos mais tarde. Naquela época o esporte era dominado quase que em sua totalidade, por dois países: EUA e Brasil.

Ao saberem da inclusão, Kerri Pottharst e Natalie Cook, duas atletas medianas de vôlei de quadra, que nunca haviam sequer participado da seleção nacional australiana - país sem nenhuma tradição no esporte - tomaram uma decisão: seriam campeãs olímpicas em Sydney, 10 anos depois.

O trabalho foi longo. Começaram o planejamento pelo final: o ouro olímpico em 26 de setembro de 2000. Definiram o que seria necessário: comissão técnica, apoio nutricional, psicológico, torneios no exterior. Reuniram todas as economias e levantaram recursos limitados com entidades públicas e privadas.

A primeira contratação foi o treinador americano Steve Anderson (foto), indicação de um amigo que o conheceu nos EUA. Além de ter sido atleta de basquete amador e ter tido uma passagem sem sucesso pelo vôlei de praia da Califórnia, Steve trabalhava na época como vendedor de uma empresa de suplementos alimentares. Era uma pessoa extremamente carismática e querida entre os atletas da modalidade. Mas não tinha NENHUMA experiência como treinador.

"Escolhemos o Steve por diversas razões. Queríamos um treinador americano ou brasileiro. Como não falávamos português achamos que a comunicação com um americano seria mais fácil. Este conjunto de fatores nos fez escolher o Steve. Gostamos dele. Acreditamos no que ele nos passou na entrevista. Mas havia uma questão importante: não podíamos pagar um salário muito alto, apenas US$ 500,00 por semana. Apesar disso, ele aceitou o desafio, acreditou no projeto." Afirmou Natalie Cook à Sports Illustrated após os Jogos de Sydney.

A segunda contratação, "provavelmente a mais importante", segundo Steve Anderson, foi Kurek Ashley (na foto entre Kerri Pottharst e Natalie Cook), famoso palestrante e motivador australiano, conhecido por grandes transformações psicológicas em pessoas de sucesso.

O programa desenvolvido por ele, e que foi seguido à risca pelos três, envolvia foco total no ouro em Sydney. Para se ter uma ideia dos detalhes, os tubos de pasta de dentes, embalagens de xampu, cremes, caixas de ceral, de leite, latas e muito mais eram "envelopados" com adesivos escritos "OURO EM SYDNEY". Ao acordar pela manhã eles se olhavam no espelho e diziam em voz alta para si mesmos: "hoje darei mais um passo em direção ao ouro em Sydney."

Além disso, claro, muito treino físico, técnico e tático. Desde 1991, foram três anos com uma carga superior a seis horas por dia. A participação em torneios era restrita aos de menor importância na Austrália.

A partir de 1994 começaram a participar do Circuito Mundial. Entrevistadas pelo Corriere Dello Sport - depois de participar de seu quinto torneio e conquistar a oitava derrota seguida, sem conquistar sequer uma vitória - foram perguntadas qual era seu objetivo no esporte. A resposta: o ouro em Sydney. Foram ridicularizadas. Viraram motivo de chacota.

Mas não perderam o foco. Continuavam treinando e repetindo seu ritual diário. Foram necessárias 14 partidas para conquistarem sua primeira vitória. Terminaram o ano com a nada animadora marca de 23 partidas e apenas CINCO vitórias. A melhor colocação em um torneio foi a classificação para a chave principal e eliminação na PRIMEIRA rodada, em Jablonki, na Polônia. Posição no ranking: 187º.

Em 1995 já tiveram uma clara evolução: 32 partidas com 23 vitórias e duas participações em quartas de final e duas em oitavas de final. Ranking: 35ª melhor dupla do ano, o que, com os descartes, representava a classificação para as Olimpíadas de Atlanta, a primeira com a participação do Vôlei de Praia como esporte olímpico.

O resultado deu moral à dupla e ao treinador. O objetivo estava mais próximo. Mantiveram-se focados no longo caminho que ainda tinham que percorrer.

Veio o ano olímpico. Foram a grande surpresa do início da temporada, chegando a duas semifinais no Circuito Mundial, sem contudo conquistar medalhas, e duas quartas de final. Nas Olimpíadas, a grande surpresa: uma campanha quase perfeita. três vitórias seguidas às conduziram para a semifinal contra as brasileiras Monica Rodrigues e Adriana Samuel. Primeira e única derrota olímpica: 15 x 3. Na decisão da medalha de bronze, vitória por 2 x 0 (15/11 e 15/7) sobre as americanas Hanley e Harris (na foto, Kerri Pottharst na disputa da medalha de bronze).

A PRIMEIRA medalha conquistada pela dupla era o bronze olímpico!!!

No ano seguinte, sagraram-se vice campeãs mundiais e conquistaram definitivamente o respeito da comunidade internacional.

A equipe se separou por pouco mais de um ano e retomou o projeto em 1999, 18 meses antes das Olimpíadas de Sydney. Vieram com força total nos treinos, foco máximo.

Tinham porém um grande obstáculo: as brasileiras Shelda e Adriana Behar, que estavam no auge da forma física e técnica. A dupla era na época TETRA campeã mundial e havia ganho 80% dos torneios que havia disputado.

Todos julgavam que o período de afastamento custaria à dupla a medalha olímpica. O ano era sofrível. Só conseguiram a classificação para a olimpíada por serem a melhor dupla australiana, pois estavam em 89º lugar no ranking mundial.

Elas e o técnico, porém, continuaram acreditando e trabalharam como nunca.

O resultado foi surpreendente:  campeãs invictas com direito à vitória na final por 2 x 0 (12/11 e 12/10) sobre a melhor dupla do mundo na época, Adriana e Shelda.

O "impossível" havia se tornado realidade. O projeto tornou-se possível devido à dedicação, ao empenho, ao planejamento e a outros fatores importantes, mas o que realmente foi decisivo foi ACREDITAR que era POSSÍVEL, REALIZÁVEL.

Acredite que é possível realizar. Mantenha o foco. Trabalhe com afinco e dedicação diariamente para que seu objetivo se torne mais próximo. Não se abata com a opinião negativa das pessoas à sua volta.

O impossível só existe se você acreditar nele.

Sucesso.

Mario Linhares